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Mais de 29% da população adulta do Brasil não tem acesso a uma conta bancária, com as mulheres representando 59% desse total.

O Banco União Sampaio não possui outra agência na comunidade do Jardim Maria Sampaio, localizada no bairro de baixa renda de Campo Limpo, na cidade de São Paulo. Opera em uma pequena sala dentro de um centro comunitário de mulheres. Não há portas giratórias ou detectores de metais – características típicas de instituições financeiras. Embora o unico sinal da boca do caixa seja uma folha de papel digitada, acima da janela, a União Sampaio já ajudou milhares de pessoas na região com empréstimos de microcrédito.

 

“O Sampaio (banco) já me ajudou várias vezes. Outro dia, eu precisava comprar óculos de grau e não tinha dinheiro para comprá-los. Eu vim aqui e eles me ajudaram”, diz Sonia Dagmar Levino, 69 anos.

 

Sonia diz que os óculos que ela comprou com esse empréstimo possibilitou ela de fazer um curso para aprender a costurar, assim como consertar máquinas de costura. Agora ela não apenas vende tapetes artesanais, mas também ganha dinheiro consertando as máquinas de outras costureiras.

 

O Banco União Sampaio foi criado em 2009, com o apoio da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (ITCP-USP). O banco emite sua própria moeda “social”, o Sampaio, devidamente registrada no Banco Central do Brasil e é aceita em mais de 20 estabelecimentos no Campo Limpo. Existem mais de 100 moedas sociais no Brasil, movimentando mais de R$6 milhões (cerca de US$1,4 milhão) por ano dentro das comunidades mais pobres do pais.

 

Entre os que aceitam o Sampaio está o açougueiro Silvestre Rodrigues de Oliveira. Ele começou a trabalhar no açougue de um amigo da família aos 14 anos. Quando tinha 20 anos, ele abriu sua própria loja – e a administra no mesmo local há 39 anos.

 

“Fui um dos primeiros comerciantes a aceitar o Sampaio”, diz ele, apontando para a placa ‘Aceitamos Sampaios’ na parede traseira da loja. “Aceitei a moeda antes mesmo de eles imprimirem as notas. Na verdade, aumentou meus negócios porque as pessoas usam o empréstimo para comprar comida e eu tenho o único açougue na área que aceita a moeda. Meu negócio aumentou tanto que consegui fazer uma renovação na minha loja.”

 

Açougueiro Silvestre Rodrigues de Oliveira aceita a moeda Sampaio em seu estabelecimento em São Paulo, Brasil. Imagem: Sarita Reed
Açougueiro Silvestre Rodrigues de Oliveira aceita a moeda Sampaio em seu estabelecimento em São Paulo, Brasil. Imagem: Sarita Reed

 

Como a maioria dos bancos comunitários, o Sampaio não requer comprovação de renda ou bens, apenas comprovante de residência na comunidade.

Um estudo realizado em outubro de 2019 pelo Instituto Locomotiva mostra que mais de 29% da população adulta do Brasil não tem acesso a uma conta bancária, com as mulheres representando 59% desse total. Nessas circunstâncias, um banco comunitário, onde banqueiros locais interagem com clientes da região, pode fazer uma grande diferença. Isso torna o crédito mais acessível – principalmente para uma grande parte da população brasileira sem banco.

 

A razão pela qual a maioria dos brasileiros de baixa renda, incluindo Sonia, reluta em procurar empréstimos de uma instituição financeira tradicional, é a alta taxa de juros.

 

As taxas de juros mensais no Banco União Sampaio variam de 0% a 2,5%, enquanto a taxa atual de mercado para empréstimos pessoais no Brasil era de cerca de 6,19% no início de outubro de 2019. Como a maioria dos bancos comunitários, o Sampaio não requer comprovação de renda ou bens, apenas comprovante de residência na comunidade.

 

“Com o Sampaio, você faz o que precisa; as taxas de juros são muito menores, então você pode pagar mais rapidamente”, explica Sonia.

 

A moeda Sampaio. Imagem: Sarita Reed
A moeda Sampaio. Imagem: Sarita Reed

 

Com a crise econômica do país, a maioria dos empréstimos é para as pessoas comprarem itens básicos, como cesta básica, remédios e gás de cozinha.

Segundo Norina Rinzi Nunes, coordenadora do Banco União Sampaio, nos primeiros oito anos de operação, o banco ajudou mais de 3.000 pessoas na comunidade.

 

Os empréstimos variam de R$300 (cerca de US $ 70) até R$1.000 (cerca de US $ 240) e qualquer pessoa que mora no bairro pode se qualificar. Quando foi implementado, o objetivo era emprestar dinheiro a pessoas que desejavam abrir suas próprias lojas ou modernizar as existentes. Agora, ela diz, com a crise econômica do país, a maioria dos empréstimos é para as pessoas comprarem itens básicos, como cesta básica, remédios e gás de cozinha.

 

Em 2017, o Brookings Institute classificou o Brasil segundo em uma lista de 26 países, politicamente e economicamente diversos, que estão progredindo na inclusão financeira e digital. O Banco União Sampaio faz parte dessa história de sucesso – foi finalista do Prêmio Fundação de Tecnologia Social do Banco do Brasil 2017.

“Uma grande parte da comunidade sabe que, quando estão em dificuldades (financeiras), podem vir aqui e nós podemos ajudá-los; eles encontrarão apoio”, diz Norina.

 

Lise Alves is a freelance writer based in Brazil.

Photography by Sarita Reed.

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